Cartas para a minha mãe

Oi, pessoas!

Estou de volta hoje para, finalmente, falar sobre Cartas Para a Minha Mãe, da escritora Teresa Cárdenas. Foi a leitura de julho do meu desafio literário: 12 livros escritos por mulheres negras para 2018. Já havia comentado sobre a escritora aqui e hoje volto para contar minhas impressões sobre sua obra.

Cartas Para a Minha Mãe é um livro bem curtinho, são 112 páginas que podem ser lidas em poucas horas. Como o próprio título indica, são cartas escritas por uma menina à sua mãe. A linguagem, portanto, facilita bastante na leitura, já que trata-se de uma personagem criança  escrevendo. Porém, isso não significa que seja um livro bobo e simples, ele tem uma profundidade enorme!

Quando escolhi essa obra, tinha a expectativa de que ela falasse sobre a relação dessa criança com sua mãe. É importante dizer que são cartas a uma mãe que já morreu. Então eu esperava, por exemplo, que as cartas trouxessem alguns tipos de questionamentos, confissões, mágoas, alegrias, desabafos… Não sei, coisas que podemos esperar de um relacionamento entre mãe e filha. Esperava que o tema central do livro fosse essa relação, mas não é.

As cartas são, na verdade, uma maneira dessa menina manter algum laço de carinho e atenção com alguém. Sabemos por meio dos relatos à mãe que, após seu falecimento, ela foi morar com a avó, a tia e as primas. Nesse ambiente a tratam mal. Ela descreve a avó como uma “velha amarga, mal-humorada, com a mão pesada”. A tia a despreza, as primas implicam com ela. A menina conta sobre os castigos, sobre as violências diretas e indiretas, dentro e fora de casa. Sobre o racismo que sofre, inclusive, dentro de sua família. As cartas direcionadas à mãe são, ao mesmo tempo, uma maneira de desabafar e de cobrá-la por já não estar ali presente para protegê-la. O pai sumiu desde seu nascimento, ela não tem a quem recorrer a não ser à mãe morta.

Querida mamãe, esta noite eu vi você nos meus sonhos. Você usava um rabo de cavalo bem comprido, amarrado com uma linda fita vermelha. Corria de um lado para outro do céu, empinando uma pipa feita de nuvens. (…)

Chamei por você em vão. Foi triste.

Acordei chorando. Ninguém veio ver o que estava acontecendo comigo. (p.9)

“Que livro mais triste!”, você pode dizer. Realmente não é um dos mais felizes que já li. Mas me lembro da própria Teresa Cárdenas falando sobre ele e outros temas que aborda em suas obras. São temas que, segundo a autora, muitas pessoas consideram como temas difíceis: racismo, discriminação de gênero, violência doméstica, morte, solidão, entre outros. Mas, para a autora, são temas que fazem parte da vida e, inclusive, do universo de uma criança. Então não há razão para não se falar sobre eles. Em Cartas Para a Minha Mãe vemos como essa menina tenta lutar contra todas as dificuldades e preocupações que não deveriam atingir uma criança e, ao mesmo tempo, tenta manter sua vida “normal” indo à escola, brincando, sonhando com um bom futuro.

Mas o livro não é só tristeza. Aos poucos, acompanhamos o crescimento dessa menina. Ela ganha um bom amigo, se aproxima de uma vizinha que se preocupa com ela, constrói uma relação diferente com uma das primas e se tornam como irmãs. Ela também começa a procurar por seu pai e tudo isso vai lhe oferece novas perspectivas, novos caminhos a percorrer.

Cartas Para a Minha Mãe é um livro muito bonito. Não era exatamente o que eu estava esperando, mas mexeu bastante comigo e me fez pensar em muitas coisas. Espero que meus comentários animem vocês a ler também e, depois, venham aqui me contar o que acharam. Se você leu outros livros da Teresa Cárdenas, coloque sua opinião aí nos comentários, vou adorar saber, porque já tenho todas suas obras na minha lista de próximas leituras.

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Para ver a lista completa do desafio literário, clique AQUI.

Para citar este texto utilize a referência: Toledo F., Sarah. 2018. “Cartas para a minha mãe”, Publicado em sarices.wordpress.com, url: https://sarices.wordpress.com/2018/11/19/cartas-para-a-minha-mae/. Acesso em [dd/mm/aaaa].

5 comentários em “Cartas para a minha mãe

  1. Parabéns por mais esse post, querida! Adorei ler; adorei ver os trechos e a maneira como vc apresenta a obra (em conjunto com o post anterior sobre a autora). Estou num vazio criativo desde o incêndio do Museu, a eleição… Sinto que meus leitores esperam que eu os fortaleça, mas só consigo pensar em coisas tristes para escrever… e isso me paraliza. Essa semana, estou conseguindo pintar um pouco e espero que isso me estimule a voltar a escrever. Continue!! Seu trabalho aqui no blog é maravilhoso. ♥

    Curtido por 1 pessoa

    1. Oi, Karina! Eu te entendo, viu? Acho que estamos passando por momentos muito complicados e sombrios e ser criativo e otimista nesse contexto é um pouco difícil. Estou aqui com passos de formiga e sem vontade (como diria a música), mas acho que retomar as atividades que nos dão algum prazer é essencial nesse momento. Para nos conectarmos com a gente mesmo, com o que nos fortalece e, aí sim, servir de fortalza para os outros. Não sinta essa obrigação com seus leitores, acho que a maioria sabe compreender essa situação. Espero que você consiga pintar e escrever e em breve volte com as publicaões. Um abração!

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