Bob

Ele chegou há quase um mês. Um cachorrinho lindo que ganhou o nome de Bob. Bem nome antigo de cachorro, não? Minha mãe que escolheu, se lembrando de outro cachorro Bob de muitos e muitos anos atrás. Ele estava perambulando pela rua há vários dias, andava para lá e para cá, com cara de triste e perdido. Deitava nos portões das casas e ficava dormindo. Começamos a ficar de olho nele, preocupadas. Minha irmã sugeriu que o pegássemos e ficamos com aquele pensamento de: “será?”. O principal motivo era já haver uma cachorrinha na casa, a Baleia. Ela mora aqui há seis anos e, definitivamente, é dona do espaço. Mas decidimos arriscar.

Um dia, ele estava deitado do outro lado da rua e fui tentar chamá-lo. Levei ração e água para ver se o atraía, mas ele mal levantou a cabeça. Vi que estava meio doente e com um semblante muito triste. Partiu meu coração, mas não quis insistir, com medo que ele me mordesse, ou algo assim. Os vizinhos estavam deixando água e comida, em várias casas por aqui. Mas começou a fazer muito frio em São Paulo, ele não tinha outro lugar além da rua para dormir, estava doente, só comida e água não eram suficientes.

Uns dois dias depois da minha primeira tentativa, passando na rua com minha mãe, o vimos deitado na calçada, a umas três casas daqui. Falamos sobre ele e uma vizinha, vendo nossa reação, começou a contar a história que sabia. Segundo ela, o cachorro havia sido abandonado. Um carro parou e, simplesmente, alguém abriu a porta e soltou dois cachorros. Não entra na minha cabeça como alguém pode ter coragem de abandonar um animalzinho indefeso na rua, pra mim, é uma atitude meio psicopata. O outro cachorro sumiu, mas o Bob ficou andando por aqui, perdido e triste. A vizinha disse que ele precisava de cuidados, que ela não podia pegar, porque já tinha uma cachorrinha que estava brigando com ele, etc. Comentei que eu queria levá-lo para casa, que já tinha tentado e não consegui, então ela me ajudou e, desde então, ele mora com a gente.

Nos primeiros dias, ele estava muito desconfiado, obviamente. Tomou vacinas, banho, remédio, fez exames por causa de um milhão de carrapatos que o estavam devorando. O deixamos afastado da Baleia por causa disso, principalmente, para não passar carrapatos para ela. Ainda hoje ele é um pouco desconfiado, acho que fica com medo de ser abandonado de novo e, por isso, é muito carente também. Por suas atitudes, dá para ver que ele realmente não era um cachorro que sempre viveu na rua. Que nome será que ele tinha? Será que ele ainda se lembra?

Vi por aí na internet que quando adotamos um cachorro que sofreu maltrato, temos que tentar esquecer um pouco seu passado e pensar no seu presente e futuro, para conseguir impor limites, educar, etc. Mas como não olhar para a carinha dele e imaginar tudo o que sofreu? Além do trauma de ser abandonado e não saber o que fazer ou para onde ir, algum outro psicopata bateu nele enquanto estava na rua. Quando a gente lembra disso a vontade é de super protegê-lo. Estamos nos controlando.

Depois dessas semanas aqui, ele já está adaptado a nós. Continua muito carente, mas parece que se sente com um pouco mais de confiança. Já estamos no nível de brigar com ele pelas coisas que apronta. A adaptação com a Baleia está indo bem. Não sabíamos como começar. Algumas pessoas falaram para ir aos poucos, outras falaram para já colocar eles juntos de uma vez, porque iriam brigar de qualquer maneira, mas eles mesmo se colocariam limites. Acho que fizemos uma mistura das duas táticas. Cada cachorro é um cachorro e com os dois sentimos que não dava para esperar muito em juntá-los, mas também não dava para colocar os dois num ringue e ver o que acontece. No momento, eles se toleram, não são amigos e ambos ficam com ciúmes quando algum de seus humanos não está interagindo com ele, mas com o outro. Ainda não ficaram juntos sem supervisão, apesar de que não brigaram muitas vezes, mas sabe-se lá.

Enfim, o mês de julho foi difícil. Os cuidados com o Bob e toda essa adaptação demandou muito tempo e uma quantidade razoável de dinheiro. Mas tem valido a pena, sempre vale. Quem ama animais entende bem o que estou dizendo. Agora eu tenho três cachorros especiais no meu coração, a Baleia, a primeira de todas. O Tchururuco, meu companheirinho que nunca vou esquecer e agora o Bob.  Como em bom português brasileiro, a pronúncia vai com um I no final: “Bobi, ou Bobby”. Eu chamo ele de Bobo às vezes e ele também atende. Agora fiquem com essa carinha e vejam se ele não é lindo.

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PS: Não comprem animais de estimação! Eles não são objetos, não são mercadoria. Comprar animais é incentivar um ciclo de exploração e violência contra seres inofensivos e indefesos. Adotar é muito melhor! ❤

2 comentários em “Bob

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