Minha família é composta por alguns seres humanos e uma cachorrinha. O nome dela é Baleia. Ela está há quatro anos com a gente, que são seus quatro anos de vida. Antes disso, se você perguntasse para alguém da minha família sobre conviver com animais domésticos, todos diriam que não havia possibilidade. Não é que não gostássemos de animais, mas estávamos de acordo sobre evitar todo o trabalho envolvido nisso. Hoje não vemos mais a possibilidade de estar sem ela.
A Baleia lá de casa ganhou esse nome porque quando chegou à nossa casa, estava de dar dó. Pequenininha, doente, sem forças para nada, só queria saber de dormir e receber carinho. Minha irmã decidiu homenagear a Baleia do Graciliano Ramos, que também era de dar dó, vivendo naquela miséria, tão seca quanto as vidas de sua família. Certamente a Baleia do livro merece uma homenagem. Ouso dizer que ela já recebeu muitas, o nome da Baleia lá de casa, embora incomum, não é exclusivo.
Outro dia, um priminho perguntou porque o nome dela era Baleia se ela era uma cachorrinha. Pergunta inteligente, como as de todas as crianças. Mas como responder? Eu disse apenas que era uma homenagem a uma personagem de um livro que a gente gostava muito. Não dá para explicar a poesia por trás disso, só lendo o livro, o que espero que ele faça quando for mais velho.
A propósito, tenho vontade de reler Vidas Secas, mas não sei se poderia fazer isso sem me desidratar de tanto chorar, porque com certeza, dessa vez, imaginaria a minha querida Baleia na pele da Baleia do livro.
A Baleia lá de casa teve um final feliz até agora. Foi encontrada na rua, adotada por uma família que a ama, passa muito bem tomando sol e comendo comidas gostosas. Não sonha com preás, mas acho que ela sonha com coisas boas também e só não conta para a gente porque não sabe falar. Bem, supostamente não sabe, porque assim como a Baleia do livro, ela tem um quê de humanidade, o que às vezes é um pouco assustador, mas também é interessante ver o quanto ela nos entende, talvez muito mais do que nós a entendemos.
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