Encontros

“Acontece, entretanto, que nascemos para o encontro com o outro, e não o seu domínio.”

(Fernando Sabino – O encontro marcado)

Um dos escritores brasileiros que gosto muito é o Fernando Sabino. Um dos meus livros prediletos é O Encontro Marcado. Esse livro conta a história de Eduardo Marciano (um personagem criado por Sabino que lembra um pouco o próprio escritor) desde sua infância em Belo Horizonte, até sua vida adulta, passando por crises existenciais, pelos sonhos juvenis, pela atividade literária de jovens boêmios, por encontros e desencontros. Se alguém não leu esse livro ainda, dê uma chance, é maravilhoso!

Li O Encontro Marcado pela primeira vez quando tinha uns 16, 17 anos, gostei muito e depois disso o reli diversas vezes. Reler é uma atividade muito interessante, pois sempre aparecem coisas novas. Todos deveriam experimentar. Pois bem, cheguei em uma época da vida que parei de reler esse livro, por falta de tempo e por interesse em outras coisas. Depois de alguns anos, porém, resolvi reler novamente. Ele foi devorado! Acabei muito rápido. Obviamente, não porque queria saber o final da história, mas porque estava lendo um livro totalmente diferente.

O Eduardo Marciano que conheci há 10 anos era um personagem que me causava muita admiração. Me causava uma tristeza e angústia também, mas eu o admirava porque, apesar de tudo, ele era alguém que tinha uma ansiedade por viver e talvez, por isso. fosse tão precoce, para usar as palavras do narrador. Toda a overdose intelectual, todo sentimento de querer abraçar, ou melhor, engolir o mundo inteiro, tudo isso me tocava profundamente. Essa era minha interpretação do Eduardo.

Relendo o livro dessa vez, minha impressão sobre o Eduardo foi outra. Tive pena dele. Não sei se esse é o melhor sentimento a se ter por alguém, mas foi como me senti. Conheci dessa vez um personagem perdido, sem rumo e que, por isso, tomou tantos rumos diferentes que não o levaram onde ele queria estar e não lhe ofereceram nada além de frustração e tristeza. Também me senti angustiada dessa vez, mas foi por ver em mim e na minha geração a mesma característica que possui Eduardo: a de pensar que somos bons demais e que merecemos alguma coisa e, quando não conseguimos o que achamos que merecemos, nos sentimos frustrados. Aliás, isso de pensar em toda uma geração é curioso. Porque Fernando Sabino escreveu esse livro em 1956, um contexto diferente do nosso em muitos aspectos. Mas tudo o que está ali parece atemporal.

Acho que reler livros em épocas diferentes da vida é ainda mais interessante. Vejo que meu olhar sobre o Eduardo há 10, 8 anos atrás era de uma adolescente, entrando na vida adulta, sem saber direito o que me esperava. Agora, com 27 anos, estou entrando naquela fase em que supostamente uma pessoa deveria ter algo de sólido em sua vida. Tudo o que tenho são construções em andamento, algumas abandonadas, deixadas no passado e que provavelmente ficarão ali. Algo parecido com o que tinha Eduardo Marciano no momento de seu principal encontro, embora talvez não tão trágico.

Seja qual for meu olhar, posso dizer que esse livro continua sendo um dos meus preferidos, por isso acho que vou reler ele algumas vezes ainda. É meu encontro marcado com Eduardo Marciano e comigo mesma.

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