Quando eu era jovem e tinha mais tempo na vida, costumava escrever historinhas. Começou com uma teoria sobre os pombos, compartilhada por um amigo, que resolvi esquematizar em um texto. A partir daí, várias pessoas da família vinham me contar causos, falando: “escreve uma história sobre isso” e eu, que não tinha muito o que fazer, escrevia a historinha de acordo com o filme que passava na minha cabeça quando me contavam. Tenho todas elas guardadas aqui comigo. Daí que, dia desses, estava mexendo nessas coisas e encontrei essa, que escrevi em 2007, quando minha irmã resolveu que queria plantar um pé de maçã igual a gente faz quando planta feijão no algodão, sabe? Fiquei relendo e dando gargalhadas sozinha, não tanto pelo texto, que nem é tão legal assim, mas por lembrar da história real que inspirou ele. Em homenagem à minha irmã, resolvi republicá-lo.
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Mariana e o Pé de Maçãs
Todos os que conheciam Mariana a achavam uma menina comum. Reservada, discreta. Porém, poucos sabiam que ela era capaz, às vezes, de agir totalmente o contrário do que se imaginava. Ela também era tomada por umas ideias que, para o espanto de todos, colocava em prática. Mas, geralmente, era uma menina comum.
Um dia, Mariana se cansou de tudo isso e pensou: “Já chega! Vou fazer algo extraordinário!”, mas não sabia ainda o que fazer. Sentada, comendo uma maçã, lembrou-se da história de João, que, com seus feijões mágicos, conseguiu viver grandes aventuras. “É isso!”, pensou ela. Pegou as sementes da maçã e decidiu plantar uma árvore, para abandonar um pouco a monotonia. Suas sementes não eram mágicas e ela não esperava que sua árvore atingisse o céu. Mas seu objetivo foi atingido.
Colocou as sementes numa embalagem de iogurte, com algodão, esperando que algo acontecesse. Quando sua família viu aquilo, começou a rir da cara dela, chamando-a de louca e ingênua. Como nasceria uma macieira dali? Mas Mariana tinha certeza de que aquilo aconteceria e não se importava com os comentários. Alguns dias depois, as sementes começaram a brotar e ela as transferiu para um vaso. A partir de então, as coisas tomaram proporções maiores.
As zombarias aumentaram, pois a notícia de que Mariana cultivava uma macieira dentro de casa se espalhou. Amigos, vizinhos, parentes – todos comentavam sobre o assunto. Uns acreditavam nela, mas a maioria dava risada. Ela começou a se incomodar: “Que é que eles pensam? É óbvio que dará certo! E, quando der, nenhum deles comerá minhas maçãs.”
Certo dia, voltando para casa com uma mistura usada na aula de ciências, o irmão de Mariana tropeçou, derrubando a tal mistura na planta. Como de costume, fingiu não ter feito nada e, por isso, ninguém entendeu quando o pé de maçã começou a crescer repentina e assustadoramente. A planta passou a crescer 30 cm por dia. Mariana se sentia feliz, pois “provava” que sua sementinha no algodão dava certo. As pessoas, um pouco envergonhadas (mas desconfiadas), acabaram concordando. Foi preciso tirar a árvore dali, pois não era possível mantê-la dentro de casa.
Pessoas de longe iam ver esse fenômeno. Botânicos, cientistas… Até a TV apareceu para entrevistar a dona da árvore. Mas Mariana já não estava feliz. O cansaço dela, agora, era de ver todos explorando sua querida planta, esperando ansiosamente pelas maçãs. Ela só queria voltar à sua vida normal.
Foi aí que surgiu. A maçã. Única. Nenhuma mais. As pessoas se perguntavam como uma árvore enorme poderia dar apenas uma maçã. Mas Mariana sabia: era para ela, era sua maçã! A garota colheu o fruto e comeu. Guardou as sementes com carinho. Nenhuma maçã mais nasceu, até hoje. As pessoas se desinteressaram e a vida de Mariana voltou ao normal.
Ou quase, pois agora ela pensa em extraterrestres.