Portuguesando

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Para quem não sabe, estou dando algumas aulas de português aqui em Cartagena. Já comentei algumas vezes que tem sido interessante a experiência de ensinar minha própria língua para falantes de outro idioma. Já tive a experiência de ser professora, mas não de português e muito menos para estrangeiros (vamos esquecer por um segundo que eu sou a estrangeira aqui), que é algo um pouco diferente de ensinar português em uma escola no Brasil, por exemplo, para crianças que foram alfabetizadas nessa língua.

Enfim, aparecem muitas coisas divertidas no meio das aulas… Por exemplo, tenho uma aluna de 9 anos um pouco tímida para tentar falar o português, mas que assimila tudo muito bem e, dentro de certas limitações de vocabulário principalmente, entende bastante a língua. Certa vez expliquei para ela que o verbo vivir (viver) em espanhol nós substituímos quase sempre pelo “morar”, em português. Ou seja, embora correto e possível, dificilmente no Brasil alguém vai dizer “Eu vivo em São Paulo”, “eu vivo na zona leste”. As pessoas dizem, “Eu moro em São Paulo”, “eu moro na zona leste”. Expliquei isso dentro de um contexto em que falávamos justamente sobre residir em algum lugar.

Pois bem. Passou muito tempo desde essa aula. Mas, na semana passada, estávamos fazendo um exercício mais avançado de compreensão e escrita. Eu ditei um pequeno parágrafo para ela escrever, justamente para ver o quanto ela compreendia o português falado e as nuances de palavras terminadas em “e”, que nós pronunciamos como “i”, as terminadas em “o” pronunciadas como “u”, a letra “r”, enfim… Em determinado momento do texto aparecia o verbo “viver”, mas não no sentido de morar. Era algo como “Eu vivo feliz ao seu lado”, não me lembro exatamente qual era a frase. Quando acabei de ditar, fui ver o exercício dela. Alguns erros de acentuação, uma dificuldade com as palavras terminadas em “m”, que em espanhol terminam em “n”, mas ela foi super bem. Então percebi uma coisa interessante. Ao invés de escrever a frase com o verbo viver, ela escreveu com morar, ou seja, “Eu moro feliz ao seu lado”. Perguntei por que ela havia escrito “moro” se eu havia ditado “vivo”. Ela respondeu: “Mas você disse que no Brasil as pessoas falam morar, e não viver. Não sei porque você falou ‘vivo'”.

Eu não havia percebido a associação que ela tinha feito, mas caiu a ficha totalmente quando me respondeu isso. Fiquei rindo por dentro, porque achei super inteligente da parte dela fazer essa ligação, mas expliquei que nesse caso o contexto era outro, não estávamos falando sobre residir em algum lugar, etc…

Nesses momentos, acho superdivertido ensinar o português, ver como as pessoas compreendem nossa língua do ponto de vista delas e me dar conta de como nosso idioma é complexo e cheio de coisas legais.

=)

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